Casos como o de Isabella Nardoni e do menino Pedro Henrique Marques Rodrigues, comovem o grande público por vários motivos.
Um dos motivos é a explicação mais óbvia, ou seja, a de que se trata de crimes hediondos com requinte de crueldade e perversidade. Mas afinal, por que isso nos incomoda?
O caso de Isabela Nardoni é o mais famoso, porém não é o único. No caso do menino Pedro de Ribeirão Preto, vemos uma história trágica muito parecida com a de Isabela.
O menino Pedro de apenas 5 anos morreu, segundo os pais por ter ingerido um produto químico, já de acordo com o laudo do Instituto Médico Legal (IML) de uma embolia pulmonar gordurosa provocada por fratura. O menino teria sofrido maus tratos pelos pais antes de morrer.
Nesta semana fui procurado por uma emissora de televisão de Ribeirão Preto e região para tentar explicar porque as pessoas se comovem tanto com casos como os de Isabella e do menino Pedro.
É um fenômeno comum da espécie humana se identificar com a vítima em potencial. Chamo de vítima em potencial aquele sujeito indefeso, frágil ou fragilizado, ingênuo, desprovido de força e preparo o bastante para se proteger contra o agressor. É o caso de uma criança em relação a um adulto agressor.
Nos filmes, nas novelas, nos romances, torcemos pela vítima porque nos identificamos com ela, nos imaginamos em seu lugar, ainda que de forma não tão consciente (talvez por isso funcione tão bem).
Essa empatia de que falamos, infelizmente não se apresenta no agressor perverso, naqueles sujeitos maiores e providos de maior força que uma criança, neles não há esses movimento de se imaginar no lugar da vítima.
Esse tipo de coisa nos incomoda porque conseguimos nos colocar no lugar da vítima, imaginariamente, claro. A vítima em potencial tem essa capacidade de evocar, em sujeitos mentalmente saudáveis, a empatia, isto é, a capacidade se imaginar no lugar do outro.
Já as razões para a motivação de crimes como esses, podem ser várias, porem basicamente podemos citar alguns motivos preliminares:
a) A inversão de valores, onde o que vale é o individualismo e a satisfação do “si mesmo” em detrimento do outro e da coletividade,
b) O movimento contrário à empatia, portanto uma antipatia,
c) A valorização das coisas exteriores a si mesmo, como o parecer ser algo e não o ser de fato.
Em casos de infanticídios por adultos também podemos pensar no fenômeno do bode expiatório, no qual todas as sensações negativas do agressor são transferidas para uma vítima sacrificial, uma vítima em potencial.
De acordo com o livro “A Violência e o Sagrado” do antropólogo francês René Girard, a idéia da vítima sacrificial (em casos como o de Isabela Nardoni e do menino Pedro) faz muito sentido. Então o agressor transferiria seus “pecados” à vítima, ou seja, tudo aquilo que ele julgar como negativo é transferido ao bode expiatório, à vítima sacrificial. A "culpa" sai de seu portador original e se transfere para a vítima em potencial, indefesa e impotente diante do agressor.
Houve tempos e lugares onde o sacrifício humano era praticado como forma de expiação, porém em sociedades mais primitivas. Contudo, para essas culturas havia um sentido, o que não quer dizer que seja algo aceitável, alias em nossa sociedade e cultura é absolutamente inaceitável.
Mas então, qual é o sentido?
Diego Gutierrez Rodriguez
CRP: 06/75564